segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cheiro de mato

Ultimamente tenho tido saudade do cheiro de mato para ocupar o espaço de outras saudades que também recentemente andam me dando uma folga. Aquele cheiro que talvez eu nunca tenha sentido de verdade mas vem no pacote de quem mora na capital e foi criado no interior - de Minas. Automaticamente a mente de quem ouve já remete a uma lembrança tão concreta, tão substancial, tão parte da imaginação que por alguns instantes a verdade é sucumbida pela suposição do que tenha sido essa parte da vida na antiga pequena Itaúna com idas esporádicas ao infinito Fundão. Esse imaginário construído hoje é inseparável do que realmente tenha acontecido. Que o imaginário do povo, incluindo o meu, seja verdade e que minha criação tenha mesmo sido com cheiro de mato fresco, cercado por cabelinhos de anjo de chuchu que viravam pulseiras e colares; que eu realmente tenha subido no pé de romã ou gritado para meus primos pegarem a mais docinha para mim; que eu realmente tenha pegado couve do quintal e me admirado com a finura que a Dinha cortava aquilo na mão - sem cortar a própria mão; que tenha mesmo sido verdade que eu andava à cavalo no sítio do meu tio Geraldo, que eu subia correndo no morro de areia sem que ninguém visse; que eu realmente tenha corrido na frente dos outros primos e do meu irmão para eu ser a primeira a abrir a porteira para a visita entrar; que eu tenha ido escondida no curral ver de perto os porcos do quintal da Fia; que o sítio da Tia Sônia tenha realmente existido e que os mergulhos no açude de lá e que as aulas de como boiar de costas com Tia Cica não tenham sido apenas parte da imaginação. Mesmo depois dessa invenção toda continuo com muito saudade do cheiro de mato!

Tetê