domingo, 28 de junho de 2015

Quando o silêncio chega

O silêncio pode sim chegar com poucos avisos. A presença de um ou outro sinal bem nítido de que as coisas não estavam indo bem não se pode negar que existiu. Parece que muitos de nós só largamos os nossos afazeres quando não tem mais jeito, quando só nos resta chorar o leite derramado. Quando me deparei com o silêncio, a minha perna tremeu, meu peito bateu mais forte e as lágrimas rolaram bochecha abaixo. É importante chorar a perda do barulho, do grito, do jeito autêntico e assumido, da força da personalidade, do saber de tudo, do orar por todos, da presença de voz, presença de ordem, presença de amor no jeito mais particular de ser que alguém possa ter. Há frases inesquecíveis, histórias hilárias, casos já mil vezes replicados a espera de outras centenas de vezes a ser contado novamente. O silêncio do barulho mexeu comigo. Ela se calou. Talvez pela primeira vez na vida, por mais de algumas poucas horas ela se calou. Vê-la no silêncio foi dolorido pra mim. Tenho várias memórias e cem por cento delas muito engraçadas ou no máximo tragicômicas. Iara não senhor, DONA Iara. Ela era o melhor calendário que um dia existiu. Sabia todas as datas de aniversário, todas as datas de celebração de aniversário de casamento, não esquecia da data do divórcio de ninguém e sabia muito bem de todas as paixões e desamores da sociedade local e quiçá distante. Inesquecível. Cismou que eu nunca gostei de Tetê e mal sabe ela que atualmente esse é novamente o meu apelido no trabalho. Ela era umas das únicas que dizia meu nome duplo sem cortar nem o primeiro e nem o segundo. Era Maria Tereza o nome que ela insistia que todos repetissem. Ela falou que o Roberto não era de se jogar fora e que Miguel não era assim tão feio. E eles caíram na gargalhada, cada um na sua época. Todos riram dos casos dos seus cinco filhos, dos casos de seus pais, das histórias de seus netos e do seu Zé. O Zé da Iara sempre foi dela e sempre será. Mesmo que resolva não mais ser só dela, ela sempre será o Zé da Iara que fez de tudo de acordo com a vontade de sua Iara. Personalidade forte, perninhas tortas e uma gargalhada marcante. Cabelos brancos impecáveis e chamava quem quer que mexesse em suas madeixas de Seu Bosta sem pestanejar. Eu chego para visitá-la e depois de dar boas risadas de felicidade eu vou pegar um pouco de água na cozinha. E de repente ela grita: CREDO! Eu quase morro de susto, meu coração vai na garganta e pergunto a ela o que foi. Ela responde em alto e bom tom: QUE PAR DE PERNA GROSSA. Eu também chorei muito nesse dia, mas foi de tanto rir!!! Dona Iara para alguns, Tiara para outros, inesquecível para todos. Fique em paz! Te amamos!