sábado, 27 de dezembro de 2014

A minha resposta para a pergunta.

Talvez tenha sido a melhor das propagandas dos últimos tempos. Nenhum dado oficial, no entanto, sempre presente na minha mente. É uma pergunta. Aparentemente simples de ser respondida, embora a precipitação leve à superficialidade e não à reflexão almejada por mim. Algumas dezenas de coisas me fazem muito feliz. Para começar o meu coração não pode pular ao mesmo tempo que eu puxo o ar bem profundamente para encher meu pulmão como se ele fosse explodir. Quando essas duas coisas acontecem concomitantemente eu estou bem longe de estar muito feliz. Partindo-se do princípio que isso não está acontecendo e minha cabeça não está doendo, meu estômago não está enjoado e meu joelho não esteja latejando, as chances de eu estar muito feliz são enormes. A possibilidade de uma conquista me faz muito feliz. Conquistas com diferentes graus de complexidade, mas sempre conquistas. Conseguir alcançar o ônibus no ponto porque o motorista não acelerou para esperar por mim que ia correndo de sapato social, segurando a alça da bolsa e a pasta ao mesmo tempo é uma conquista e tanto. Chegar no trabalho no horário quando o metrô está lentinho por causa da chuvarada também. Conseguir ser aprovada nos estudos, ser de alguma forma elogiada por um projeto relevante no trabalho, ter uma ideia que todos achem brilhante me fazem muito feliz. Passar uma tarde com uma amiga do peito mesmo que não seja em Itapoan, passear de mãos dadas com meu amor, arrancar uma gargalhada de minha mãe e ter mais atenção do que um negócio de meu pai me fazem feliz demais! Stand up paddle. Stand - up - pa - ddle. Ficar em pé em cima de uma prancha e remar. Seguir em direção à marina e perguntar para o pescador no barco atracado a mais óbvia das perguntas merecedora da mais direta das respostas. Pescando o quê?......... Peixe! Gargalhada digna de abusos bahianos. Pois é, isso também me faz muito feliz. Aquela piscina logo após o Farol indo sentindo oposto ao que eu sempre venho também me faz muito feliz. Ela não foi descoberto por mim, não é exclusiva minha, acho uma gostosura chegar lá e encontrar alguém pra jogar conversa fora no mar e ainda assim, me faz muito feliz. O planejamento do inesperado! A esse sim, me faz sentir radiante! Visita o google maps, insere 3 nomes de cidade até o destino final, encontra um ônibus leito que percorra cada trecho da rota, preenche o cadastro, insere o número do cartão de crédito, espera a bolinha parar de girar e lá está! O planejamento do inesperado me dá borboletas do bem no estômago. Abomino a curiosidade de saber o que tem lá com a pergunta demasiadamente objetiva e simplista pro meu gosto. O que tem lá? Eu sei lá. E é justamente por isso que estou tão empolgada! Eu não tenho ideia do que as pessoas comem no dia-a-dia, da cor do uniforme que as crianças usam para irem à pé ou no lombo de alguma alma boa para a escola, do sotaque das pessoas no ponto de ônibus e do contraste com o do apresentador do jornal local. Eu não sei. E não saber é bom demais! Desperta a curiosidade de descobrir. Não me interessa o que me contem. Eu quero vivenciar. E no final das contas, vivenciar, experimentar e me aventurar é a minha resposta superficial para a pergunta: "O que faz você feliz?"

domingo, 21 de dezembro de 2014

Só pra simplificar a conversa

Negar uma conversar é coisa bem rara. As exigências para o papo não dar pano pra manga são altíssimas. Conversa de todos os tipos. As que ninguém me convidou, outras que me forçam a dar passos curtos para não perder o desfecho, as conversas de trem, de ônibus, de porta de elevador e as conversas de mar. O ideal é procurar uma boa quantidade de água calma circundada por pedras altas e um apoio qualquer pra sacolinha do dinheiro. Feito isso, caminha-se bem devagar nas pedras e quando achar a mais seca e mais alta, com um casal namorando por perto, atrapalha-se a concentração do beijo por três segundos e coloca-se os pertences ali, coincidentemente, como se tivessem donos bem por perto. Feito isso, percorre-se o caminho de volta pra areia com agilidade de quem fez algo errado. Pé na areia, vista para o cruzamento entre o céu e a água, foco e coragem. Um passo depois do outro e, no tempo de um piscar de olhos, os dois pés vão pra superfície da água provocando um ligeiro afogamento friamente calculado. A cena não é das mais lindas, mas nada que a inspiração da garota do Fantástico dos anos 90 não ajude. E lá está ela. Linda. Olhos pretos e os arredores também. O pelo branco com gordura entre a pele e a carne. Uma mancha preta ali bem na altura do rabo. Ele a chama de Cuba e ela o chama de seu. Nenhum minuto sem a visão do dono. Pepe mergulha e ela enlouquece, nada em círculos, deixa claro para quem quiser ver que ela está preocupadíssima com a desobediência do seu amado dono que desapareceu para o fundo do mar para caçar lagostas. E por falar em caçar, o outro esporte favorito de Cuba é a caça. Ela corre em zigzag atrás de codornas e perdizes e Pepe atira para que ela os abocanhe e o entregue o prêmio dos dois. Depois de assada, o prêmio continua sendo dos dois. Cuba se distância e nada até a margem. Anda em círculos na areia. A conversa tomou a atenção de seu dono que não se move e então, somente diante dessas circunstâncias, sem ver muita alternativa para o seu intestino inquieto, ela não disfarça e consegue que Pepe se sinta incomodado e saia da conversa para fazer a limpeza que ela se recusa a encarar. Já era hora de se apresentar, se despedir e dizer que nos encontraríamos por aí em breve. Pra simplificar a conversa eu não disse que eu amo a energia de Salvador, mas que ainda não é minha morada. Só pra simplificar a conversa, a cocker Florzinha sofre de infecções de ouvido as quais me impedem de levá-la para nadar no mar. Só pra simplificar aquela conversa, eu moro em Nazaré e conheço a referência do canil aonde os cães de caça são criados por ele. Provavelmente Pepe não desconfiou de nada. No entanto, não posso dizer o mesmo de Cuba.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Eu não sei o nome dele

Ele é lindo, mas estava chorando. Estava cansado porque acordou cedo hoje e foi de ônibus para a sessão de fisioterapia que fica na Barra Funda em São Paulo. Ele esticou os braços na fisioterapia, esticou as pernas e tudo isso cansa. E é por isso que ele começou a chorar. De um jeito engraçado, até. Como se quisesse falar. Falar ele não consegue. Andar também não. Ele usa uma cadeira de rodas que parece deixar o cobrador do ônibus bem preocupado. Tal preocupação fez com que o senhor gritasse para o motorista. Era um aviso. Anunciava que o ônibus não tinha mais espaço para cadeirante. O dono da cadeira tem quatro anos. Alguém diz que ele é o companheiro da mamãe. Esse mesmo alguém diz que é bom que ele tenha um irmão mais velho para ajudar a mamãe. E ainda complementa com um exemplo de sucesso de uma criança com sequelas que evoluiu muito com a força de vontade que tem para jogar bola. A uma certa altura do meu pensamento a mãe avisa ao motorista que vai descer no próximo. Seria menos complicado descer se as pessoas que estivessem com o olhar perdido percebessem que cadeira de rodas não se espreme para conseguir passar por entre elas no corredor. A ideia de descerem do ônibus para dar espaço para a cadeira passar, tarda mas não falha. Ele se vai e fica o conselho. Temos que agradecer todos os dias ao Senhor Jesus por estarmos vivas, por termos dois braços e duas pernas. A receptora da mensagem parecia bem entretida com o cabelo pra fora do chapéu para conseguir ter feito mais do que dar ouvidos à sua mãe. Hora de descer do ônibus e almoçar no restaurante chinês em frente ao ponto. Eu não precisei me espremer para passar no corredor porque o ônibus não estava lotado, mas bem que as rodas da cadeira seriam mais ágeis do que eu ao descer a rua. Quanto a agradecer o Senhor Jesus, ele deve se lembrar disso todos os dias.