Muitas vezes quando eu era acordada pelos meus pensamentos eu continuava na cama para pegar no sono novamente e raramente conseguia voltar a dormir imediatamente. Hoje eu decidi levantar-me, vir para a sala, abrir o notebook e escrever.
O pensamento muito comumente chega desorganizado e em flashes, como se fossem cenas de umrolo de filme projetadas de forma aleatória na parede.
Para organizar os pensamentos é sempre bom meditar. Ao meditar é importante reconhecer o pensamento e jogá-lo fora. Dessa forma, a nossa consciência determina se é hora ou não de pensar sobre o que quer que seja. Ao jogar um pensamento fora o nosso consciente impõe-se sobre nosso inconsciente deixando claro que naquele momento aquele pensamento não é bem vindo. Isso me faz pensar sobre quando é que um pensamento passa a ser bem vindo. Precisamos acionar nossa mente e convidar nossos pensamentos a emergirem quando buscamos uma solução para alguma coisa. Em contrapartida, o pensamento quando não solicitado pelo nosso consciente pode nos trazer desde uma ideia brilhante, um insight, uma memória linda e isso pode ser uma surpresa daquelas que a gente sorri só de lembrar, ou ser um pensamento intruso que não nos remete a coisas boas. O lado ruim dos pensamentos intrusos pode se comparar a um bando de penetras que entram em uma festa nossa. É uma invasão inesperada.
A minha forma de lidar com a avalanche de pensamentos é não ignorá-los. E por isso eu escrevo e utilizo a escrita como ferramenta para reconhecer os meus pensamentos e elaborá-los enquanto os registro. O personagem Emydgio de Barros retratado no filme "Doutora Nise" (interpretado por uma atuação perfeita de Glória Pires) define a própria mente como engenho de dentro. Do engenho de dentro de Emydio surgem pensamentos, lembranças, ideias e ele expressa toda essa avalanche por meio da pintura e se torna um dos maiores artistas do país no seu tempo. Cada um de nós tem o seu próprio engenho de dentro e de lá todos os pensamentos emergem. Que possamos encontrar uma forma que nos encante de reconhecer os nossos pensamentos e expressá-los, seja escrevendo sobre eles, pintando as emoções, sentimentos, memórias que eles representam, transformando-os em escultura ou de alguma outra maneira que seja positiva para nós e que não cause danos à ninguém.
O auto julgamento dos próprios pensamentos e a culpa de tê-los pode ser fatal para qualquer pessoa. Travar uma guerra consigo próprio para conter os pensamentos pode dar início a um ciclo danoso e de auto destruição. O engenho de dentro pode se tornar uma barragem que se rompe com consequências drásticas para o dono do engenho e também para toda a comunidade ao redor dessa barragem. Todos nós sabemos dos danos que uma barragem que se rompe pode causar e por isso é nosso papel evitar essa grande tragédia.
