domingo, 21 de dezembro de 2014

Só pra simplificar a conversa

Negar uma conversar é coisa bem rara. As exigências para o papo não dar pano pra manga são altíssimas. Conversa de todos os tipos. As que ninguém me convidou, outras que me forçam a dar passos curtos para não perder o desfecho, as conversas de trem, de ônibus, de porta de elevador e as conversas de mar. O ideal é procurar uma boa quantidade de água calma circundada por pedras altas e um apoio qualquer pra sacolinha do dinheiro. Feito isso, caminha-se bem devagar nas pedras e quando achar a mais seca e mais alta, com um casal namorando por perto, atrapalha-se a concentração do beijo por três segundos e coloca-se os pertences ali, coincidentemente, como se tivessem donos bem por perto. Feito isso, percorre-se o caminho de volta pra areia com agilidade de quem fez algo errado. Pé na areia, vista para o cruzamento entre o céu e a água, foco e coragem. Um passo depois do outro e, no tempo de um piscar de olhos, os dois pés vão pra superfície da água provocando um ligeiro afogamento friamente calculado. A cena não é das mais lindas, mas nada que a inspiração da garota do Fantástico dos anos 90 não ajude. E lá está ela. Linda. Olhos pretos e os arredores também. O pelo branco com gordura entre a pele e a carne. Uma mancha preta ali bem na altura do rabo. Ele a chama de Cuba e ela o chama de seu. Nenhum minuto sem a visão do dono. Pepe mergulha e ela enlouquece, nada em círculos, deixa claro para quem quiser ver que ela está preocupadíssima com a desobediência do seu amado dono que desapareceu para o fundo do mar para caçar lagostas. E por falar em caçar, o outro esporte favorito de Cuba é a caça. Ela corre em zigzag atrás de codornas e perdizes e Pepe atira para que ela os abocanhe e o entregue o prêmio dos dois. Depois de assada, o prêmio continua sendo dos dois. Cuba se distância e nada até a margem. Anda em círculos na areia. A conversa tomou a atenção de seu dono que não se move e então, somente diante dessas circunstâncias, sem ver muita alternativa para o seu intestino inquieto, ela não disfarça e consegue que Pepe se sinta incomodado e saia da conversa para fazer a limpeza que ela se recusa a encarar. Já era hora de se apresentar, se despedir e dizer que nos encontraríamos por aí em breve. Pra simplificar a conversa eu não disse que eu amo a energia de Salvador, mas que ainda não é minha morada. Só pra simplificar a conversa, a cocker Florzinha sofre de infecções de ouvido as quais me impedem de levá-la para nadar no mar. Só pra simplificar aquela conversa, eu moro em Nazaré e conheço a referência do canil aonde os cães de caça são criados por ele. Provavelmente Pepe não desconfiou de nada. No entanto, não posso dizer o mesmo de Cuba.

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