segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ele é o tal!

Ele entra, se ambienta e arrebenta. Como se estivesse em casa ele escala a montanha que o separa da cadeira que tanto sonha em ocupar. A postura dele é por demais parecida com a do seu ídolo. Eu já o ouvi declarar repetidamente o seu amor por um deles em uma outra viagem. E tão freneticamente quanto a repetição exaustiva do eu te amo incansável, ele também insistia em apertar o botão que sinaliza para o motorista do ônibus que já é hora de partir após pacientemente esperar que o último pé do passageiro se descole do piso de lata do transporte que vai e que vem sem perceber que ele ocupou a cadeira tão sonhada. Para ele, a cadeira antes vazia de quem ele gostaria de ser foi um troféu conquistado. Ele cruza os dedos da mão e seu olhar imita com muita classe o jeito do cobrador que denuncia um ar investigativo sobre a vida alheia. Ele finge não saber de nada e o ar de responsabilidade de quem autoriza o motorista a seguir viagem é impagável. Ele é o tal! Ele tem síndrome de down. Ele me diverte, me faz acreditar ainda mais em sonhos, me deixa orgulhosa em saber que o simples ainda é percebido, curtido, valorizado e causa muito orgulho. Parabéns! Hoje você foi o cobrador da vez, me deu um boa noite ousado e seguiu orgulhoso rumo ao prazer de viver.

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