quarta-feira, 20 de maio de 2015

A princesa e o príncipe

"Tanto Amos como eu éramos pessoas críticas e dadas a discussões, ele até mais do que eu, mas durante os anos de nossa colaboração, nenhum de nós rejeitou de imediato nada do que o outro disse." A minha intenção era começar esse texto dizendo que a minha amiga Larissa me emprestou um livro e ao ler a página 13 eu me deparei com essa frase que diz muito sobre mim e algumas pessoas com as quais exercitamos sem esforço o não rejeitar de imediato o que o outro diz. No entanto, antes mesmo de dar continuidade ao pensamento que já se transformava em palavras eu me lembrei do porteiro do prédio da minha mãe. O nome dele é Jaílson e a minha mãe coloca um Seu na frente por um motivo incerto, mas provavelmente deva ser pela nossa famosa mineirice. Com seu ou sem seu, ele foi meu anjo da guarda por um dia. Eu fiz uma grande besteira com o carro do meu pai na garagem de casa de anão que o prédio dele me oferece. O carro caiu no buraco da garagem de prédio de anão e, quando eu já estava prestes a chamar os bombeiros heis que a porta bate e quando eu vejo sai de lá o meu príncipe do Ébano do mundo gay. Eu apostei todas as minhas fichas nele e deu certo. Ele desistiu de enfrentar a frieza daquela tarde em São Paulo rumo ao aconchego da sua liberdade pós horário comercial e decidiu ajudar a mim, a energúmena que deixa o carro cair no buraco entre a rampa de entrada e a vaga minúscula do prédio de anão dos meus pais. "Vem mais um pouco, só mais um pouco, para!, desenrola, desenrola tudo, pro outro lado, para!, tô pensando, mais um pouco pra cá, só mais um pouco, para!, deixa eu ver..." Esse riquíssimo monólogo não se transformou em diálogo até que, depois de muito deixar esperar o pobre condômino que saiu do seu apartamento com a simples intenção de sair da garagem para ir fazer sei lá o quê com a sua esposa, eu consegui! Nós conseguimos! O meu príncipe do Ébano do mundo gay me tirou dali! Uau! Que alegria. Pronto! Se já éramos muito educados um com o outro, viramos amigos! O melhor está por vir. Na minha visita corriqueira próxima, eu me dou conta que o porteiro da vez que estava dentro da cabine quentinha de vidros foscos e escuros era ele! Ah, que alegria! Tudo bem Seu Jaílson? Como vai a vida? E o senhor gosta de frio? E ele responde. Oi! Tudo bem! Ah, eu adoro! Me lembra Londres! Para quem conhece o meu jeitinho muito apelidado de tudo quanto é nome de rir, não vai ser difícil imaginar o volume no último da minha gargalhada ao ouvir que ele nunca foi pra Londres não, mas viu num filme! É de gente espirituosa assim, sem nem mesmo mencionar bondosa assim, que o mundo precisa. Amo muito tudo isso! Amo também pessoas como a minha amiga Larissa, que além de me emprestar livros, também é como eu uma pessoa crítica, posso até dizer que menos do que eu, e que nenhuma de nós, de imediato rejeita nada que a outra diz. Amizades profundas em tempos de cólera e em tempos de superficialidade eu não sei se serão tão comuns assim, mas que eu adorei ter conhecido a minha princesa dos países nórdicos, ah, isso é fato!

Um comentário:

  1. Hahaha... que conto gracioso! ! Adorei... ri muito de imaginar tudo isso acontecendo ... e vc com sua risada hilariante!! Sinto um respeito mútuo em nossa amizade... Nós nos entendemos...rs adorei ter te conhecido tbm.. e como vc diz as coisas não acontecem a toa... temos um propósito! ! Linda vc é muito querida... quero ler sempre suas histórias! !!

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