segunda-feira, 4 de maio de 2015

Poderia ser um anjo.

O nome dele é Gabriel e poderia ser um anjo. Mas ele é o menino de 15 anos que parece ter 25 e que acha gente de 35 demasiadamente velha. Ele poderia ser um anjo, mas ele é o garoto que aos 14 anos sentou a cadeira da escola nas costas do diretor que o chamou de mendigo pegando-o pelo colarinho. Ele poderia ser um anjo, mas ele é o rapazinho que me pediu comida hoje pela sacada do restaurante em que eu estava a pensar na vida. Ele é o Gabriel de olhos arregalados que eu desconfiei estarem excitados pelo uso de algum narcótico. Se tem uma coisa que Gabriel nega é que usa drogas. Em contrapartida, ele não nega que acabou de perder a mãe esses dias pra trás e que acha que vai perder o pai que anda abusando da bebedeira. Ele não é mais o Gabriel que mora em Diadema. Agora ele mora na área do metrô Ana Rosa, em uma invasão ao lado de um lugar aonde há alguém que de vez em quando dá comida para ele e para outros. Ele tem uma cicatriz no rosto e apesar de ser um pouco franzino é forte o suficiente para conseguir honrar com a palavra que me deu ao apertar minha mão. Ele não vai se envolver com drogas. Ele vai tentar fazer algum trabalho para ganhar algum dinheiro. Ele vai pedir desculpas para o diretor da escola e tentar voltar a estudar. Ele me prometeu. E ele também me agradeceu. Não somente pela marmita do restaurante em que eu estava pensando na vida. Ele me olhou nos olhos, ele apertou minha mão que estava estendida, ele deixou o queixo cair um pouco porque ele estava um tiquinho espantado, apesar de agradecido. Eu acredito que a gratidão dele foi exatamente igual a minha por ele. Está cada vez mais difícil achar pessoas que respondam a um boa tarde caloroso, quiçá quem dá um dedo de prosa em troca de prato de comida. Tomara que a gente possa se encontrar de novo. Se Deus me der dois meninos, um deles será Miguel e o outro Gabriel.

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