Sapato marciano

Pedi um dinheiro para minha mãe e fui numa loja de sapato que tinha subindo a rua da casa da vó. Acho que era aonde tem uma padaria hoje, na esquina oposta da casa paroquial, na praça.
Subi a rua toda empolgada para comprar um sapato lindo. Estava sozinha. Entrei na loja e comprei um sapato de plástico prata. Hoje em dia reconheço que é quase brega ter um sapato de plástico prata, mas na hora que comprei era como se meu objeto de desejo estivesse ali, bem na minha frente. Paguei, empacotaram, segurei contra o peito e desci a rua como uma bala. Ah, lembrei! Na verdade nem embrulharam não. Eu pedi para já sair da loja com o sapato no pé. Quando estava chegando na casa da vó vi que Tia Cica estava na garagem da casa dela lavando o chão. Aí fui até lá e perguntei para ela o que tinha achado do meu sapato novo. Aí ela disse: É lindo! Parece sapato de marciano! Eu levantei os olhos que estavam no sapato e olhei pra ela. Semblante suave, calmo e com um sorriso doce ela repetiu: Amei seu sapato de marciano!
Eu não disse nada e saí. Meu pensamento era como eu faria para devolver o sapato na loja. Tirei o sapato na hora, coloquei na caixa, coloquei na sacola e voltei para a loja. Eu disse que precisava devolver porque o sapato não serviu. A moça sabia que eu tinha saído com o sapato no pé e me disse que não podia trocar sapatos usados, mostrando-me a sola suja. Aí eu não tive dúvida. Disse a ela que eu tinha que trocar o sapato por um único motivo: a minha Tia Cica achou o sapato lindo, mas disse que era sapato de marciano.
O mais inacreditável é que depois de eu falar que a Tia Cica tinha dito sobre o sapato, para minha surpresa, a moça trocou o sapato.
Graças a Deus! Meu sapato de marciano ficou na loja.

Beijocas mil.
Tetê